O caos no atendimento pediátrico em Natal foi ampliado após o fechamento do Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior, fechado na segunda-feira (12), e os desastres nesse fechamento pegaram os servidores e responsáveis pelas crianças de surpresa e para os servidores, está sendo uma situação insustentável que ainda permanece no serviço de atendimento infantil em Natal.
O Diário do RN ouviu servidores que de forma anônima relataram o que estão vivenciando após essa remoção das crianças sem aviso prévio, e a preocupação era geral, pois a incerteza de onde as crianças transferidas ficariam junto aos recém-nascidos tomava conta de todos; as puérperas também questionavam como iria ser essa mistura pediátrica: “Uma total desorganização; quem estava encaminhando não avisava que as crianças estavam sendo transferidas, a gente nem sabia onde colocar todo mundo. Tudo isso acontecendo no primeiro andar. Durante o dia tinha um recém-nascido e pegaram uma criança que veio do Nivaldo e colocaram lá para fazer a oximetria de pulso no berçário, onde não pode fazer, porque essa criança não era recém-nascida e como tinha um recém-nascido lá dentro elas podem ter uma infecção cruzada”.

Além disso, em função da correria nas transferências, realocação das crianças, a servidora conta que os responsáveis pelas crianças transferidas quase ficaram sem a janta fornecida pelo hospital, em função das transferências não terem sido comunicadas e as refeições não terem sido incluídas junto ao dos demais acompanhantes, no entanto, os servidores se mobilizaram e comunicaram à nutrição para que a janta fosse liberada, segundo ela, os funcionários estão trabalhando dobrado para dar conta de mais uma demanda na unidade: “Só sabe o que está passando quem está trabalhando lá. Foi uma notícia de muita tristeza, era mãe no corredor, eram mães dizendo que não tinha jantado, que não tinha leito da criança, foi um caos, um tumulto geral”.
E ela ainda reafirma a situação caótica vivida, um momento marcante para os servidores: “A gente não era comunicado que estavam chegando crianças, elas chegavam de surpresa, três Transportes Sanitários de uma vez chegando com crianças, mães com crianças com cateter nasal, suporte de oxigênio em pé, a gente sem nem saber onde colocar, chegando assim e não avisaram”.

O servidor anônimo também relatou inúmeros problemas estruturais da Maternidade Dr. Municipal Araken, Irerê Pinto, pois segundo ele, 11 crianças foram transferidas e apenas 2 técnicos de enfermagem da Nivaldo foram junto, mas a equipe especializada nestes atendimentos não foram, incluindo os enfermeiros, médicos pediatras, apenas os 2 técnicos, sobrecarregados com a função: “Sempre tivemos um déficit de trabalhadores. Tudo lá na maternidade é gambiarra, na sala do berçário tem um berço que está super aquecendo faz tempo e a gente está usando ele porque não tem outro. Faz tempo que está assim. O Ministério Público foi lá à tarde (13) e disse que estava errado e mandou parar as transferências, mas elas continuaram mesmo assim”.
Já na unidade fechada do Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior, os equipamentos estão sendo desmontados para a remoção e de acordo com o relato de uma servidora anônima alguns funcionários ainda estão incertos sobre suas funções e para onde irão: “As colegas foram se apresentar na secretaria, está sendo tudo como se estivéssemos agora assumindo o concurso. Chegando lá, se apresentando, indo para o distrito, saber onde está lotado, pegar documento, voltar, todo esse processo”.
Ela também reforça que dos 20 leitos anteriormente ocupados, 8 crianças receberam altas e 12 foram transferidas e até o fechamento desta matéria, uma criança ainda estava esperando vaga para uma UTI, segundo ela, a situação é desesperadora: “Dizem que vão distribuir as equipes por lugares, por onde estiver precisando. As crianças que saíram daqui estavam precisando de cuidados mais específicos e não tem pediatra lá na maternidade, o pediatra que tem lá é o pediatra que participa do bloco cirúrgico, com as puérperas, então eles não atendem a demanda do Nivaldo lá na Araken”.
O Diário do RN esteve na Maternidade Araken Irerê Pinto nesta quarta-feira (14), mas de acordo com o que foi informado pela secretária da direção geral da maternidade, o diretor geral do hospital e os dois médicos também responsáveis pela direção, estavam em reunião e não puderam atender, repassando assim, as questões estruturais e apontamentos feitos pela equipe à Secretaria Municipal de Saúde, e a assessoria rebateu as questões informando a respeito da junção das crianças transferidas com as recém-nascidas “não existe”, pois a pediatria fica no 1° andar e a maternidade no 2° andar, mas os apontamentos feitos a respeito das inúmeras denúncias da estrutura da maternidade comprometida e sem a capacidade de atender a nova demanda pediátrica e sobre o fechamento dos leitos psiquiátricos, a secretaria não declarou nada. E quando questionada como será feita a divisão dos servidores, informou que “os servidores foram remanejados e não há nenhum prejuízo no atendimento”. Procurados pelo Diário do RN, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), afirmou que já tomou conhecimento e acompanha a situação.
Gambiarra nos serviços de saúde
A equipe do Diário do RN nesta quarta-feira (14) também esteve na sede do Sinsaúde e além de abordar as denúncias feitas pelos servidores e as diversas questões em volta das transferências das crianças e a nova demanda na unidade, Érica Galvão, diretora do Sindsaúde pôs em questão mais um dos inúmeros problemas ocasionados pelo fechamento da unidade pediátrica municipal. Pois segundo Érica Galvão, os 5 leitos psiquiátricos fechados, em sua maioria, atendia crianças violentadas, muito machucadas que geralmente sofriam de violências domésticas ou abusos sexuais e no Nivaldo Júnior, a equipe especializada agregava maior assistência para essas crianças: “Os leitos psiquiátricos infantis viviam lotados, criança também fica mentalmente doente, na maioria desses leitos a equipe multidisciplinar é especializada neste atendimento, os assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, etc, agora não tem mais. As crianças vítimas de violência sexual chegavam muito debilitadas de saúde, às vezes precisam de cirurgias, tratamentos de saúde, tratamentos para as IST’s, é muita coisa. Álvaro Dias fechou um serviço e fez uma gambiarra para dizer que esse serviço vai continuar na maternidade, mas não tem condição nenhuma. Álvaro Dias é o prefeito do caos, que fecha serviços na saúde em detrimento de festas, é o prefeito pediatra que não gosta de criança”.