Por Renata Carvalho
Num cenário em que as águas do litoral oriental do Rio Grande do Norte são palco de uma diversidade marinha única, a comunidade científica liderada por Daniel Solon, presidente do Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM), expressa preocupação diante do aumento alarmante de encalhes de fauna marinha nos últimos 30 dias. Os mais recentes aconteceram nessa quinta-feira: 2 encalhes de tartarugas mortas, sendo uma na Praia de Ponta Negra (Natal) e outra na Praia de Muriú (Ceará Mirim).
“É um momento delicado. Estamos no ápice do verão, uma estação que naturalmente atrai mais banhistas para as praias. Isso, somado ao período de reprodução das tartarugas marinhas, contribui para um aumento significativo na presença desses animais em nossa costa”, comenta Solon, que destaca o desafio de lidar com essas ocorrências.
Durante o período de 24 de dezembro de 2023 a 23 de janeiro de 2024, o SEMAM, em colaboração com o Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), registrou 72 acionamentos de fauna marinha encalhada, abrangendo desde Caiçara do Norte até Baía Formosa, na divisa com a Paraíba. Esse número inclui tanto animais vivos quanto mortos, sendo 63 tartarugas marinhas e 9 golfinhos.
“Ainda que seja compreensível a presença mais expressiva de animais marinhos nesse período do ano, devemos ter cautela ao afirmar que esses encalhes são comuns. Afinal, estamos lidando com espécies em diferentes estágios de ameaça, e cada ocorrência merece uma análise específica”, ressalta Solon.
Ele aponta as atividades humanas como um dos principais fatores contribuintes: “A maioria dos encalhes está relacionada de alguma forma com a atividade pesqueira. Os animais frequentemente ficam emalhados em redes, o que representa uma ameaça grave para sua sobrevivência.”
Em relação aos incidentes mais recentes, Solon compartilha detalhes: “Ontem, 23 de janeiro, registramos quatro acionamentos, incluindo duas tartarugas vivas em Porto Mirim e Pitangui, e duas tartarugas mortas em Ponta Negra e Areia Preta, em Natal. Além disso, um golfinho foi encontrado morto na praia do Madeiro, em Pipa, Tibau do Sul/RN.”
Ele destaca a importância da atuação rápida e eficaz: “Nosso foco é sempre nos animais vivos, onde existe a possibilidade de reabilitação. No entanto, os animais mortos também são vitais para entender as causas e proteger outros membros da mesma espécie.”
A ingestão de resíduos sólidos representa uma ameaça significativa para a vida marinha. “Tartarugas marinhas e golfinhos frequentemente confundem plásticos e outros detritos com alimentos, levando a problemas intestinais, lesões internas e, em casos extremos, à morte”, explica Solon.
Ele faz um apelo à sociedade: “A população desempenha um papel crucial. Com mais banhistas nas praias, há uma responsabilidade compartilhada em evitar o descarte inadequado de resíduos. A colaboração de todos é essencial para a preservação dessas espécies ameaçadas.”
Diante dos desafios, o SEMAM e o PCCB-UERN têm intensificado a sensibilização nas comunidades costeiras. Solon conclui: “Estamos enfrentando uma realidade complexa. O engajamento de voluntários e a colaboração da sociedade são fundamentais para enfrentarmos esse desafio ambiental e garantir a preservação dessas espécies e de nosso ecossistema marinho.”