Vivemos tempos em que a presença física já não significa conexão real. A tecnologia, especialmente o telefone celular, revolucionou a forma como nos comunicamos, acessamos informações e interagimos com o mundo. No entanto, nesse avanço irreversível, perdemos algo essencial: a atenção plena ao outro. A empatia, valor que deveria ser inegociável nas relações humanas, tornou-se cada vez mais escassa diante das telas.
O paradoxo da conexão
Nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão distantes. O celular, ferramenta de comunicação por excelência, tornou-se um símbolo da desconexão afetiva. Em mesas de restaurantes, salas de aula, reuniões familiares ou até mesmo durante funerais, é comum ver pessoas mergulhadas em seus aparelhos, indiferentes ao que acontece ao redor.
Essa prática, muitas vezes inconsciente, traduz um comportamento social cada vez mais egoísta: a prioridade dada ao virtual em detrimento do real. Enquanto buscamos curtidas, respostas rápidas e notificações, deixamos de perceber olhares, silêncios e necessidades emocionais daqueles que estão ao nosso lado.
A falência da escuta e a indiferença disfarçada
A escuta – essa arte delicada de ouvir com o coração – é uma das principais vítimas do uso desmedido do celular. As conversas tornam-se fragmentadas, rasas, desconexas. O tempo da escuta foi substituído pela velocidade dos dedos na tela. A atenção plena ao outro foi sequestrada pelas notificações constantes.
Como consequência, a empatia esmorece. Perdemos a capacidade de nos colocar no lugar do outro, de reconhecer sua dor, suas dúvidas, seus silêncios. Tornamo-nos espectadores de vidas alheias nas redes, mas negligenciamos os sentimentos daqueles que convivem conosco todos os dias.
Responsabilidade coletiva e individual
O problema não está no aparelho em si, mas em como o utilizamos. A responsabilidade é coletiva, mas começa no gesto individual. É urgente repensarmos nossas prioridades e exercitarmos o hábito de olhar nos olhos, de escutar sem pressa, de estar presente de verdade.
Empatia se cultiva no cotidiano, nas pequenas ações: largar o celular ao conversar com alguém, deixar de responder mensagens durante um jantar em família, perceber quando um amigo precisa de atenção e não de uma figurinha no WhatsApp.
Conclusão: a presença como forma de amor
Estar presente é uma das formas mais puras de amar. É preciso reaprender a estar, a escutar, a sentir. A tecnologia deve servir à vida, e não o contrário. Que possamos fazer do celular um instrumento de apoio, e não de afastamento. Que a empatia volte a ser o fio condutor das relações humanas. Porque no fim, o que realmente preenche e transforma são os vínculos verdadeiros – e eles não se constroem com o polegar na tela, mas com o coração atento ao outro.
São Gonçalo do Amarante-RN, 29 de abril de 2025.