O Grupo Jinjiang, contratado pela fabricante chinesa de veículos elétricos BYD, afirmou nesta quinta-feira (26) que a descrição feita por autoridades brasileiras de seus funcionários como “escravizados” não condiz com os fatos e que houve mal-entendidos devido à tradução.
Na quarta-feira (25), autoridades trabalhistas brasileiras relataram ter encontrado 163 cidadãos chineses trabalhando em condições análogas à escravidão em um canteiro de obras de uma fábrica da BYD no estado da Bahia. A BYD declarou que cortou laços com a empresa que contratou os trabalhadores e está colaborando com as autoridades.
“Ser injustamente rotulados como ‘escravizados’ fez com que nossos funcionários se sentissem com a dignidade insultada e os direitos humanos violados, ferindo seriamente a dignidade do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos”, afirmou o Grupo Jinjiang em sua conta oficial no Weibo.
A declaração foi repostada por Li Yunfei, gerente-geral de branding e relações públicas da BYD, que acusou “forças estrangeiras” e parte da mídia chinesa de “deliberadamente difamar marcas chinesas e o país, além de prejudicar a relação entre China e Brasil”.
Um representante da BYD encaminhou a Reuters à postagem de Li no Weibo ao ser questionado sobre os comentários do Grupo Jinjiang e a situação. Jinjiang não respondeu a pedidos de comentários.
A BYD está construindo a fábrica no Brasil com capacidade inicial para produzir 150.000 carros por ano, como parte dos planos de iniciar a produção no país em 2024 ou início de 2025. O Brasil, maior mercado externo da gigante chinesa de veículos elétricos, deve aumentar as tarifas de importação de veículos elétricos para 35% em julho de 2026, ante os atuais 18%.
Na quarta-feira, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que a embaixada chinesa no Brasil estava em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e resolvê-la.
O Grupo Jinjiang alegou que questões culturais e problemas de tradução contribuíram para o incidente, acrescentando que as perguntas feitas pelos inspetores brasileiros foram “sugestivas”. A empresa divulgou um vídeo mostrando um grupo de trabalhadores chineses em frente à câmera, com um deles lendo uma carta que, segundo Jinjiang, foi assinada coletivamente pelos trabalhadores.
Na carta, os trabalhadores mencionaram que 107 deles entregaram seus passaportes à empresa para ajudar na solicitação de um certificado de identificação temporário no Brasil. Os inspetores brasileiros alegaram que os passaportes estavam retidos pela empresa.
“Estamos muito felizes por vir a Camaçari para trabalhar”, disse um trabalhador chinês não identificado no vídeo. “Estamos cumprindo as leis e regulamentos, trabalhando arduamente com a esperança de que a construção do maior projeto de veículos de nova energia no Brasil seja concluída o mais rápido possível”, acrescentou.
Com informações do Reuters