O médico que se dedicava aos pacientes de toda uma região polarizada pelo município de Pau dos Ferros e decidiu a entrar na política e por quarenta anos ininterruptos esteve presente na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, onde defendeu governos e contrariou outros governantes sempre elevando o respeito aos seus colegas deputados, fossem eles correligionários ou adversários.
Ele é Getúlio Rego, que por dez mandatos como deputado estadual desempenhou sua missão política com dignidade e que agora, ao se despedir da Casa em que frequentou por 40 anos, o Diário do RN traz, com exclusividade, entrevista em que o líder maior da região do Alto Oeste Potiguar fala de sua atuação parlamentar e do seu futuro.
DRN – Como o senhor se sente ao concluir o seu 10º mandato legislativo e se despedindo da Assembleia Legislativa depois de 40 anos?
GR – Com sentimento de dever cumprido. Desde a minha primeira eleição em 1982, o povo depositou em mim sua confiança e eu, devedor dessa atenção, dessa solidariedade, procurei transformar os meus mandatos em um instrumento de defesa da população, principalmente os mais humildes, de forma prioritária na área da saúde. Foi isso que fiz durante esses 40 anos, transformando todo o trabalho do nosso gabinete em um verdadeiro plano de saúde em favor dos mais desfavorecidos.
DRN – Nesses 40 anos de atuação parlamentar, o que o senhor testemunhou de mudanças na política do RN?
GR – Nesses 40 anos de atuação parlamentar, eu testemunhei mudanças frequentes na política do estado, não só do ponto de vista político-partidário, com o revezamento das siglas partidárias no comando do estado, mas, principalmente, no processo eleitoral com a influência cada vez maior do fator financeiro na conquista de mandato. A gente sempre trabalhou pela confiança do povo, com o reconhecimento do trabalho realizado. A partir de um determinado momento, a gente começou a já sentir a força financeira na contramão da própria legislação, que nunca teve condições de fiscalizar de forma mais ampla o processo eleitoral, exatamente pela falta de estrutura do Ministério Público que – ainda era muito sem expressão, do ponto de vista material, para ocupar os espaços de atuação dos agentes políticos e, mesmo tendo um trabalho muito vigilante – faltava material instrumental para o enfrentamento dos desafio de estender a fiscalização de todo o processo eleitoral.
DRN – Durante 10 mandatos, o senhor testemunhou o desempenho de vários governantes. Qual desses mais lhe chamou a atenção e na sua opinião qual governante que mais registrou a sua marca?
GR – Sem dúvida, o desempenho do governador José Agripino. José Agripino, ainda jovem, se elegeu para o primeiro mandato em 1982 e fez um governo exitoso, promovendo investimento em todas as regiões do estado.
Na minha região, ele ficou para sempre com a sua marca registrada de eficiência administrativa, de cuidado e zelo no trato do dinheiro público. Investiu maciçamente no setor de estradas, pavimentação de estradas, construção de hospitais, de barragens. Lá na minha região, por exemplo, José Agripino construiu a barragem de Tenente Ananias, de São Francisco do Oeste, do Itaú, de Umarizal, obras que são eternas para a população, que geraram muitos benefícios.
Estradas pavimentadas, Portalegre, Pau dos Ferros, a construção da ponte entre o Riacho do Meio e o centro da cidade, sobre o Rio Apodi. A estrada BR-405, Severiano Melo, BR-405, Rodolfo Fernando, BR-405, Tabuleiro Grande, estradas no Alto Oeste para Riacho Santana e vários outros municípios.
Além disso, José Agripino atuou com força na minha região, concluindo o hospital regional Hélio Marinho, de Apodi, investindo em abastecimento de água, em eletrificação rural de forma muito ampla, principalmente no seu segundo governo. Então, é inesquecível o trabalho primoroso realizado pelo governador José Agripino nos seus dois mandatos como governador do nosso estado.
DRN – Como parlamentar, o senhor já esteve como líder na situação e na oposição. Qual dessas funções é a mais difícil de exercer?
GR – Sobre a situação de ser líder do governo ou da oposição, a tarefa de ser líder de oposição é bem mais fácil, principalmente pelo estado que, nós reconhecemos, sempre teve dificuldades financeiras. A arrecadação não gerava recursos para investimentos. Então, a parte crítica, lógico, do ponto de vista construtivo, sobre o desempenho de um governante é, exatamente, uma tarefa mais fácil para o líder da oposição como, atualmente, a gente tem feito. Infelizmente, nem sempre o trabalho que a gente exerce tem o reconhecimento da população.
Veja, por exemplo, o desastre na gestão da saúde do Rio Grande do Norte nesse último governo da governadora Fátima, uma tragédia! Mas o povo a reelegeu no primeiro turno para governar o seu segundo mandato. O que esperamos é que ela, nesse segundo mandato, busque uma solução – não que ela possa resolver tudo, e não vamos exigir que ela resolva todos os problemas, mas, pelo menos, dar oportunidade às pessoas que estão em situações emergenciais, como pacientes portadores de câncer, pacientes com cálculos renais, cirurgias eletivas emergenciais, a parte de cirurgia vascular – que melhore [a situação da saúde] para tirar a população desse sofrimento, da dor e até da morte.
DRN – Durante esses últimos 40 anos, o senhor se afastou de sua função médica para se tornar presente na Assembleia Legislativa. Como foi sacrificar a sua carreira de médico?
GR – Durante esses 40 anos, eu me afastei da função médica, exatamente, pelo que eu sempre disse, quando me diziam que eu era deputado, eu dizia não, eu não sou deputado, estou deputado. Médico, foi uma arte que Deus me deu e eu vou, dentro das minhas possibilidades físicas, exercitar essa tarefa, principalmente, focado no interesse das pessoas que têm menos condição.
Agora mesmo, sem ser deputado para o próximo mandato, eu estou estabelecendo parcerias com consultórios médicos, com clínicas de imagem, laboratórios, para tentar minimizar o impacto da frustração da verba de gabinete, que não poderia mais contar, e diminuir a despesa para cada pessoa humilde que tenha que pagar procedimento na rede particular por um custo muito menor, mantendo o padrão daquelas tabelas que são cobradas quando eu utilizo a verba de gabinete para isso.
DRN – Por não ter conseguido se eleger para o seu 11º mandato de deputado estadual, o senhor guarda mágoas do seu eleitorado?
GR – Então, é com bastante gratidão que eu encerro esse 10º mandato. Fui o primeiro deputado da história do Rio Grande do Norte a conquistar 6 mandatos, e o povo já me deu 10, então eu saio profundamente agradecido ao povo pela confiança, que foi seguidamente depositada no meu nome, para representá-lo na Assembleia. Tenho só débito com a população, não tenho cobrança a fazer e nenhuma crítica pelo resultado eleitoral, isso é um processo normal e democrático. A gente espera que os novos parlamentares possam exercer seu trabalho com bastante respeito aos pleitos da população, e que cumpram suas agendas prometidas na discussão do processo eleitoral, e que Deus abençoe a vida de todos.
“Procurei transformar os meus mandatos em um instrumento de defesa da população, principalmente os mais humildes, de forma prioritária na área da saúde”
DRN – Como o senhor se sentiu na Sessão em que a ALRN lhe prestou homenagem?
GR – Sobre a sessão, que foi uma propositura do deputado José Dias, eu fiquei muito honrado, principalmente, porque partiu de um parlamentar, reconhecidamente, sério, competente, uma pessoa honesta e que foi, tradicionalmente, meu adversário na nossa base eleitoral. Mas, o respeito recíproco e a admiração, que sempre mantivemos, nos deu um equilíbrio que agigantou, e fez prosperar, nossa amizade de forma ética, civilizada. Porque nunca combatemos o mau combate, foi sempre uma coisa respeitosa e, sem nenhuma dúvida, isso, cada vez mais, valoriza essa homenagem. Não tenho essas vaidades, mas fiquei muito honrado, e até emocionado, pela presença maciça dos membros da Assembleia Legislativa numa sessão solene já tardia, bem acima de meio-dia, e que contou com o maior quórum, de todos os meus 40 anos como deputado, para uma sessão solene na casa.
Fico agradecido a todos que participaram da sessão, desde os membros da mesa da Assembleia, sob o comando do presidente Ezequiel Ferreira, e, lógico, fico muito feliz com a participação de todos aqueles que puderam prestar a sua solidariedade nessa nossa despedida. Será uma despedida, mas não para ficar distante da Assembleia. Eu tenho o maior apoio de todos que fazem a Assembleia, principalmente dos seus funcionários, desde o mais humilde, a quem sempre tratei um bastante carinho e tenho recebido de todos eles, também, uma grande amizade, e isso vai ficar para sempre. Que Deus abençoe a vida de todos que fazem a Assembleia, desde os seus dirigentes até os seus funcionários mais humildes.
“Não vamos nos afastar do povo, porque somos muito gratos pela confiança que em mim depositaram durante esses 40 anos”
DRN – Aqui nessa entrevista, qual a mensagem que o senhor deixa para os seus eleitores e admiradores, no encerramento de suas atividades parlamentares?
GR – Principalmente, dizer que a minha saúde física e mental vai me propiciar continuar a atender a população. Não vou abandonar a medicina; ao contrário. Vou exercê-la de forma muito mais dedicada, com muito mais tempo disponível. Principalmente, para o nosso interior do estado, nas cidades de Umarizal, Riacho da Cruz, Porto Alegre, Severiano Melo, Encanto, Rafael Fernandes, Pau dos Ferros. Estará sempre na nossa memória ativa, diária e não vamos nos afastar do povo, porque somos muito gratos pela confiança que em mim depositaram durante esses 40 anos.