Um dia depois da divulgação das notas do Enem, onde alunos do Rio grande do Norte se destacaram pelo desempenho da redação, o Diário do RN quis conhecer o conteúdo dessas redações e o que se passou na cabeça dos estudantes na hora de construir os textos. Entre os estudantes que atenderam à reportagem, uma informação chamou atenção: como estratégia para ganhar tempo, eles estão deixando de fazer o rascunho do texto, um esboço que serviria como base para a redação final.
A mossoroense Letícia Vicente foi uma que adotou essa estratégia e ainda não teve acesso ao texto nota 1.000, mas, a pedido do Diário do RN, topou escrever ela mesma sobre a experiência desde a preparação até o processo da escrita diante da prova em suas mãos. Confira o texto na íntegra.
“Essa nota é uma das maiores alegrias da minha vida, com toda certeza! Desde pequena tenho esse apego ao ler, ao saber e ao escrever, e isso influenciou toda a jornada até o dia do ENEM. Conseguir um 1000 na redação é muito mais do que um número, é uma vitória e uma conquista: depois de tanto esforço, dedicação, disciplina e abdicação, vejo que não foi em vão e valeu super a pena!
A preparação foi longa e árdua durante 3 anos no ensino médio, sendo o último o mais desafiador e desgastante, fisicamente e mentalmente, mas gratificante demais. Com a melhor rede de apoio que eu poderia ter, tenho um futuro brilhante pela frente com orgulho em poder orgulhar as pessoas que estiveram comigo: meus professores do Colégio Diocesano, principalmente Gledson Medeiros, que foi meu maior mentor no pré universitário; meus coordenadores Anacele, Pablo e Jocileide; minha mentora Daniela Xerez, do projeto AMentoria, que o Diocesano me proporcionou através do Diomed; meu professor de redação Lucas Vinicius; minha coreógrafa Roberta Schumara; Padre Charles, diretor da minha escola do coração e minha família e amigos. O sentimento de agora é gratidão por tantas oportunidades.
Não foi fácil chegar até aqui com tantos desafios financeiros, psicológicos e culturais, mas com o esforço das pessoas certas, eu brilhei como eu podia brilhar. Minha mãe e meu irmão, que são minha maior inspiração na vida, fizeram tudo que podiam para abrir um futuro para mim, conseguindo me educar e me tornar a pessoa que sou hoje, da qual me orgulho. Fico feliz em poder mostrar mais do que eu vivenciei com a história das mulheres da minha família nessa redação, refletindo sobre esse tema tão importante e necessário para aumentar nosso campo de visão sobre os estereótipos do mundo feminino e sobre essas minuciosidades implícitas no nosso cotidiano que passam despercebidas, mas contribuem para uma sociedade regressista.
O processo de escrita na hora H foi o mesmo de todas as minhas práticas ao longo do ano. Li o tema, busquei palavras-chaves, entendi a proposta, selecionei repertórios e argumentos e comecei a escrever a partir do meu modelo autêntico. Como resultado de muita prática, não fiz uma redação rascunho, pois, além de economizar tempo, já tinha meu próprio molde na minha cabeça. Sempre fiz por volta de 45min/1h, e dessa vez não foi diferente, já que a facilidade com que as palavras vinham tornaram mais fluida a minha escrita.
O ENEM passou e a redação foi só mais um resultado da minha longa preparação de muito amor, cuidado e dedicação. Fiz tudo com disciplina, seguindo uma rotina que me permitiu conciliar muito bem minha vida de vestibulanda com minha vida social e pessoal. A dança foi meu lugar de conforto e refúgio quando eu precisava espairecer e esquecer a pressão da prova. Acima de tudo, a paz, a leveza, a tranquilidade, a saúde mental boa e o acreditar em mim mesma, que eu trabalhei desde o início de 2023 para preservar, foram fundamentais para fazer um bom ENEM!
Agora o futuro é quem decide. Espero estudar meu curso de desejo, medicina, e poder ajudar as pessoas que me ajudaram a vida inteira. Meu maior sonho é ser professora, seja do que for, então não pararei meus estudos por aqui”.