“Eu acho que a gente tem muito talento aqui no estado, a gente tem roteiristas, tem diretores, a gente tem profissionais de todas as áreas do audiovisual muito talentosos, que pensam o território, pensam as questões sociais, as questões ambientais, pensam as narrativas locais, com sotaque do RN, tudo a partir dessa perspectiva da valorização da cultura do estado. E temos profissionais muito talentosos que estão em busca disso, mas, ao mesmo tempo, não tem o fomento, não tem o recurso para fazer esses filmes”, as palavras são do diretor Anthony Rodrigues, 30, ao avaliar o cenário do audiovisual no RN. Atuando no segmento de audiovisual há 9 anos, ele encontrou no cinema um caminho para a pesquisa nas Ciências Sociais, mas aponta as dificuldades do setor. “Existem ainda pouquíssimos investimentos para a produção audiovisual aqui no Estado. A gente está tendo esse ano um aporte muito maior por causa da Lei Paulo Gustavo, que é uma verba de emergência de cultura que vem do governo federal, mas verbas dos municípios e do Estado ainda são pequenas para um setor que é muito caro, exige um aporte de verba maior e, geralmente, a gente não tem esse aporte aqui no Estado, principalmente para a produção de longas-metragens, que são os produtos de audiovisual mais caros”, afirma o diretor.
Anthony Rodrigues destaca a importância dos festivais e eventos ligados ao audiovisual, mas que tudo esbarra no mesmo problema do pouco investimento na área. “A gente vem melhorando com a coisa das leis emergenciais que, de novo, não vêm do município e do Estado. Então, eu acho que tanto o Rio Grande do Norte quanto a Prefeitura de Natal estão se escondendo muito nesses valores que vêm da Paulo Gustavo, que vem do Governo Federal, e estão tirando o deles da reta em relação ao financiamento da cultura e da produção audiovisual aqui da região”, afirma.
Audiovisual pode ser uma ferramenta de desenvolvimento social para o RN
Raildon Lucena, 46, idealizador e diretor do Curta Caicó, criado em 2018, ressalta a importância do setor de audiovisual e seu fomento no RN. Raildon defende que o trabalho audiovisual pode ser uma ferramenta de desenvolvimento social dentro dessa cadeia da economia criativa, mas que ainda há inúmeros desafios, apesar da crescente no setor. “Cada vez mais nós vemos pessoas se interessando pela produção audiovisual, dentro dessa questão das narrativas, da possibilidade de memória e das próprias facilidades tecnológicas que possibilitam que as pessoas tenham acesso a smartphones, e câmeras mais acessíveis, a tutoriais para edição. Hoje está muito fácil de você estar buscando informação e se especializando. E a gente percebe, não só na região metropolitana do estado, mas em Mossoró, na região do Seridó, também tem um movimento que está bem crescendo, bem interessante lá também”.
Por meio de parceiros, editais e recursos através da Lei Câmara Cascudo, o Curta Caicó ainda se mantém atraindo o olhar do audiovisual de todo o Brasil para o RN, e também é uma forma de incentivar o setor no estado. Na edição deste ano, o festival recebeu mais de mil inscrições e destaca a importância do projeto, que leva o audiovisual para instituições públicas e privadas.
“A gente já percebe um interesse por parte dos seridoenses na produção audiovisual, com o número de pequenas produtoras e de realizadores audiovisuais, e o número crescente de filmes que são produzidos aqui na região. Quem mora no Seridó tem a oportunidade de criar uma curta-metragem e se inscrever e concorrer de ‘igual para igual’, tendo em vista que esse movimento aqui na produção do visual é relativamente recente”.
Para Raildon Lucena, o audiovisual no RN é um grande sonho que vem crescendo e se enraizando cada vez mais, tendo em vista as possibilidades de se utilizar das mais variadas paisagens e cenários do Estado.
“A Lei Paulo Gustavo é um alento que veio, era um dinheiro que estava represado de governos anteriores que não tinham a sensibilidade para investir, é um fundo setorial do audiovisual, sustentável a partir dos próprios impostos que são pagos através da Condecine, é um dinheiro que entra e que depois volta para o setor na forma de investimento e proporciona a possibilidade de criação de filmes, séries, curtas-metragens, videoclipes e tudo mais. E Aldir Blanc, que é uma política nacional, vem trazendo muitas expectativas positivas, porque é importante a gente estar olhando para o setor do audiovisual, da cultura em si, dentro dessa cadeia econômica, já que é importante ter esse fomento e a grandiosidade desses projetos, tendo em vista a importância da geração de emprego em renda também. Elas têm um potencial gigantesco para que possam estar fomentando o setor, profissionalizando e dando mais possibilidades para os artistas, os agentes culturais, eles estarem podendo viver da sua arte, da sua cultura”.
Câmara investiga em Parnamirim
Na última sexta-feira (08), o município de Parnamirim divulgou o edital da Lei Paulo Gustavo, contemplando o valor de R$ 1.580.001,71 destinado a projetos culturais da cidade. No documento, chama atenção a presença de empresas contempladas pelo benefício da lei que não teriam atuação no meio cultural da cidade e até empresas com endereço em Natal.
Na categoria de documentário, por exemplo, uma empresa com atuação na construção, especializada em pinturas conforme consta em seu registro CNPJ, figura entre os selecionados. Já na categoria média-metragem, uma empresa com CNPJ destinado a artigos de armarinho foi contemplada.
O assunto chegou a Câmara de Vereadores de Parnamirim onde, nesta terça-feira (12), a vereadora Rhalessa de Clênio pediu a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI), além de protocolar outras denúncias. “Não basta fundamentar, é hora de uma investigação profunda. Protocolei as denúncias no Ministério Público Federal e na Polícia Federal. O Respeito às equipes de audiovisual e artistas é essencial”.