“São níveis diferentes de hierarquia, mas ele tanto sabia que a gente estava falando de investimentos cruzados, que discursou um dia antes na Arábia Saudita, falando de investimentos cruzados da Arábia Saudita no Brasil em fertilizantes, que é exatamente isso”, afirmou o presidente da Petrobras, o ex-senador Jean Paul Prates, ao dizer que o presidente Lula (PT) teria conhecimento sobre a proposta de estabelecer uma subsidiária da petroleira na Arábia Saudita para fertilizantes, a Petrobras Arábia. A afirmação foi feita ao portal Metrópoles nesta segunda-feira (4).
Jean destacou que a eventual criação da subsidiária na Arábia teria como foco o mercado de fertilizantes, e não o de petróleo. “Não tem nada a ver com petróleo. Não tem absolutamente nenhum sentido imaginar que a gente vai colocar uma empresa aqui para fazer perfuração para explorar petróleo na Arábia Saudita. Não houve anúncio oficial de nada. Nem tudo o que está em estudo na Petrobras, Lula sabe. O dia que tiver que anunciar uma subsidiária, é o presidente Lula quem vai fazer esse anúncio”, destacou.
Ele disse que a estatal estudava a viabilidade de estabelecer uma subsidiária da petroleira no Golfo em entrevista à Bloomberg News, no último sábado (2). No dia seguinte, o presidente Lula foi questionado, pela imprensa presente na COP28, sobre o fato da Petrobras estudar a possibilidade de abrir uma sucursal no Oriente Médio.
“Você deve fazer a pergunta para o Jean Paul Prates. Eu não fui informado que a gente vai criar uma Petrobras aqui […] Como a cabeça dele é muito fértil e ele pensa na velocidade de Fórmula 1, e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, preciso aprender o que é isso que ele vai fazer. Se a Petrobras tem algum investimento para fazer aqui, eu não sei no quê”, afirmou Lula, em entrevista coletiva.
O episódio foi visto como uma possível indicação de que Lula planeja tirar Jean Paul Prates, um técnico atuante na área há três décadas, da presidência da petroleira brasileira para acomodar o atual ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia, Rui Costa (PT), um político sem experiência na área. O que corre nos bastidores da política de Brasília é que Jean tem sido alvo de “fogo-amigo” por parte de Costa, com esta finalidade. Conforme o jornalista Igor Gadelha, do Metrópoles, Lula poderá fazer isso em janeiro, quando planeja fazer uma reforma ministerial.
PETROBRAS E OPEP+
A repercussão da proposta de criar uma filial da Petrobras na Arábia Saudita foi intensificada também porque ocorreu no dia em que o presidente Lula confirmou que o Brasil irá integrar como aliado a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), segundo o Metrópoles.
A declaração ocorreu durante a COP28 e foi considerada um “retrocesso” por ambientalistas, que avaliaram que o discurso de Lula na conferência não se reflete em ações efetivas para a transição energética no Brasil.
“É inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1,5 graus, agora esteja anunciando o seu alinhamento ao grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo”, respondeu o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, ao Metrópoles.
Lula e Jean estão participando da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP28) em Dubai, nos Emirados Árabes. O evento começou dia 30 de novembro e segue até o dia 12 de dezembro.