Por Horácio Paiva
DE PROBLEMAS
O tamanho do problema, ou sua dimensão, é sempre de quem o vivencia.
Na vida, é preciso aprender a andar sobre as águas. Porque na vida não podemos evitar dar de cara com problemas. Mas devemos aprender a encará-los. Dependendo de como os encaramos, ou eles ficam fraquinhos e somem ou crescem e nos perturbam. Assim, prefiro a primeira hipótese. E por que eles se assustam e nāo eu? Porque conheço o seu jogo, o jogo da ilusão, e sei que eles passam.
Eterno e real só Deus, e Deus é felicidade, alegria! E está conosco.
Escrevo em meu poema “Andar sobre as águas”:
“Ensinai-me, Senhor, a andar sobre as águas
a manter os pés enxutos
e livres do frio suor dos presságios
(…)
Ensinai-me o segredo
da leveza
da graça original
anterior a nossos erros
e à sequência metamórfica das ilusões
que nos tornaram nus e perdidos
(…)”
DO PRAZER E DA FELICIDADE
Epicuro, o célebre filósofo grego (341 a 270 a.C.), explica, em sua “Ética”:
“Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.”
Esse texto de Epicuro remete-nos a teorias zen-budistas e cristãs, e, ao mesmo tempo, aos estoicos, que tanto admiro. E nos brinda com essa joia:
“De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade.”
Muitos séculos depois, o nosso Eça de Queiroz, decepcionado com o bulício e a ostentação de uma grande cidade, Paris, dirigia o seu bucólico olhar para as serras, a vida provinciana no interior de Portugal, e ali identificava a felicidade:
“Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor – me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.”
Belo e convidativo convite existencial! Sim, a paz do campo ajuda e conforta, mas nós só temos um lugar: nós mesmos. Como nesse ponto final:
“não há duas cidades
não há dois mundos
só degraus de nós mesmos
no topo o paraíso
na base o abismo”
*Poeta, escritor, advogado, menbro do Instituto Histórico e Geográfico do RN, da União Brasileira de Escritores do RN e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA