Na infância, a engenheira civil Fernanda Silmara, 27, morava numa casa de taipa na comunidade Guarita, no Alecrim, e as condições de sua moradia, segundo ela, a traumatizaram muito. Não pelas condições financeiras, mas sim por ter medo do telhado cair, de acontecer algum acidente ou até mesmo pelo cheiro de mofo que a casa tinha em função das chuvas que alagavam o local. Por sentir vergonha e medo, isso a impossibilitava de receber visitas, no entanto, as feridas de seu passado motivaram Fernanda a criar o projeto Reforamar, que de forma voluntária seleciona e reforma casas de pessoas em vulnerabilidade social.
“Eu tinha vergonha de chamar o pessoal na minha casa, fui crescendo e meu tio percebia isso, até que um dia eu consegui passar na UFRN, lá eu consegui uma bolsa de pesquisa, e com o dinheiro dessa bolsa, meu tio perguntou se eu não gostaria que ele reformasse minha casa voluntariamente. Eu comprei os materiais e fomos reformando aos poucos, até que um dia eu cheguei em casa e ela estava com um piso que eu nunca tinha tido, e o telhado era novinho sem nenhuma goteira. Aquilo me marcou muito, eu não sei nem como descrever aquele momento, eu só queria multiplicar aquele sentimento que eu tive, então aí eu comecei a ver maneiras de ir multiplicando aquilo”.
Foi assim que a Reforamar surgiu em 2018, e segue até hoje, tendo impactado mais de 4 mil pessoas, contando com a colaboração de 7 colaboradores que trabalham no crescimento do projeto e 100 voluntários que ajudam nas ações.
“No processo de escolha, as pessoas vão no nosso site e indicam o seu lar, quando a gente está com uma verba que pode selecionar mais famílias, vamos aos nossos bancos de dados e vemos se a família está dentro dos critérios. A gente precisa verificar se as informações são verdadeiras. Então o assistente social e o voluntário vão no local, o assistente faz algumas perguntas; analisamos a casa, vemos se as respostas que estão no formulário batem com a realidade, e depois fazemos uma avaliação, tanto técnica quanto social”.
Conforme a engenheira, após a verificação se os inscritos estão dentro dos critérios, a equipe retorna ao local para informar aos proprietários que eles foram selecionados e o arquiteto faz um apanhamento das informações a respeito de como a família gostaria que o lugar ficasse. Dentre os requisitos, está a casa ser própria e o proprietário não ter condições de reformar, alguns proprietários têm prioridade, idoso em casa, mães, solo, a comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, porque são pessoas em situação de maior vulnerabilidade.
Por meio do projeto, Fernanda Silmara destaca a importância que o Reforamar tem na vida das pessoas que mais carecem de ajuda e de como ter um lar em boas condições, pode ser um fator decisivo na vida das pessoas, em função de uma estrutura física que ampara e acolhe, conforme ela explica, ter um lar digno vai além de ter uma casa bonita:
“Eu fui a primeira a ter um ensino superior na minha família. Meu pai e minha mãe pararam no ensino fundamental e minhas irmãs no ensino médio. Então já seria uma vitória se eu parasse no ensino médio. Hoje, sou engenheira civil, e acredito que por isso, por ter tido um lar, um local para estudar, para estar confortável. Então quando a gente conclui a entrega, eu relembro tudo o que eu passei, como é gratificante estar multiplicando isso. Os voluntários, alguns não passaram pelo que eu passei, mas só de ver ali o choro de felicidade da família, eles também sentem essa transformação”.
4ª Feijoada Beneficente do ReforAMAR
Em prol da arrecadação de fundos para as reformas sociais da ONG, este ano a ReforAMAR está com o Projeto São Gonçalo Acessível que beneficia ao todo 09 famílias que sobrevivem em moradias insalubres e precisam de melhorias para acessibilidade. O serviço oferece feijoada completa, open bar e música ao vivo por R$ 30,00, neste domingo, 19/11 na sede do projeto Reforamar, na rua Pastor Manoel Leão, 2160 – Candelária, Natal, Rio Grande do Norte, 59066-240.

