Por Crispiniano Neto*
Um jovem de 16 anos fortemente armado, invadiu duas escolas em Aracruz, no Estado do Espírito Santo. Matou três pessoas e feriu mais 11. Evidentemente uma tragédia de tão terríveis proporções se tornou o assunto do dia, mesmo que exista uma equipe de transição levantando uma situação caótica na gestão pública federal, mesmo que esteja havendo uma disputa brutal no discurso que vai ficar na cabeça do povo sobre esta situação e sobre as posições, mesmo que tenha um “mercado” escroto lutando pelo privilégio dos seus lucros nababescos em detrimento da comida na mesa de milhões de brasileiros que hoje passam fome. E, de quebra, ainda tem uma Copa do Mundo em curso e que ocupa 90% do noticiário, por óbvio, num País que se autointitula “Pátria de chuteiras”. Mas, claro, vidas perdidas e o perigo de uma onda de invasões mortíferas em escolas, como já existem nos Estados Unidos, tem mais é que dominar mesmo as preocupações da nação inteira.
Alguns aspectos, porém, precisam ser observados, porque fazem parte da discussão diária da violência, especialmente da violência perpetrada por e contra a juventude brasileira: Liberação de armas, origem dos jovens violentos, a idade deles, a origem social, a corda pele e a inevitável questão ideológica.
Alguns aspectos dessa discussão ficam claros em algumas postagens nas redes sociais, vejamos:
Estelita Borges disse: O pai do assassino de Aracruz deve ser daqueles que gritam: “Tem que diminuir a maioridade penal”. Com o filho preso deve estar dizendo: “Mas é só um garoto, não sabia o que estava fazendo”.
Jani Valverde disse no Twitter: “Quem atacou e matou professores e alunos em escola do Espírito Santo não é nenhum filho de traficante, nenhum filho de negro, nenhum filho de esquerdista! É filho de um tenente branco da Polícia Militar do Espírito Santo. Agora estou pensando aqui: Em quem será que esse tenente votou?…
O tuiteiro Tiago Barbosa reforçou: O atirador do Espírito Santo não saiu de nenhuma CPX, não é negro, traficante e nem conseguiu arma com a bandidagem. É branco, filho de PM, usou revólver do pai no crime e estava seguindo diretrizes da extrema direita. Reflexo da cultura de ódio que arma o País.
Na legenda de uma foto que alguém postou nas redes sociais após um ato em favor da campanha de Jair Bolsonaro em que se vê um senhor de meia idade e um jovem rapaz, com jeito de quem pratica exercícios físicos em grau de intensidade, musculoso, com trajes de guerra na selva, consta: Sabe quem é esse rapaz, com esse senhor? Esse rapaz entrou em uma escola estadual no ES, matou duas professoras e uma aluna do 6º. ano e feriu mais 9 pessoas. O pai dele é militar e costumavam ir às manifestações Bolsonaristas que entre outras coisas, defendem o armamentismo.
O deputado Ivan Valente pergunta: Dá para ser condescendentes com estas hordas? O Bolsonarista, não, mas, algumas pessoas que votaram neste ser abjeto, irão ter remorso e vergonha de ter sido complacente com o que eles tentaram consolidar no Brasil… Quem viver, verá…
Em resumo. Um jovem nazista, filho de um branco militar, nazista, pois posta foto de capa de livro de Hitler e gente que segue o bolsonarismo e sua mentalidade armamentista, supremacista e, acima de tudo, violenta. A tragédia de Aracruz é apenas um retrato 3×4 da tragédia brasileira.
*Diretor-geral da Fundação José Augusto