Por Ana Patrícia Furtado*
Mais um mês de outubro se passou e mais uma vez milhares de mulheres receberam um diagnóstico que ninguém quer ouvir: você está com câncer. Foi assim comigo quando aos 34 anos, solteira e sem filhos, li no papel da biópsia que minha vida estava mudando para sempre. Sim porque passar por todas as fases de um tratamento oncológico muda toda a sua perspectiva de vida, principalmente quando se é jovem, quando o ser humano tende a achar que é eterno, imbatível.
Quando eu li a palavra “carcinoma”, meu pouco conhecimento de biologia já entendeu do que se tratava. Ali, no estacionamento do hospital, eu senti como se minha vida estivesse em suspenso, como se eu estivesse em um quarto branco, sozinha, sem saber o que ia acontecer comigo, qual seria meu futuro. Será que eu teria futuro? Me lembro de ter concluído que era melhor ouvir a palavra dos médicos antes de surtar, mas confesso que chorei com medo e te adianto que esta foi uma das poucas vezes que chorei por causa do câncer. Menos de um mês depois desse resultado, eu já estava começando minha primeira quimioterapia, felizmente eu descobri o câncer cedo e tive essa oportunidade. Eu preciso que você saiba da seguinte informação: eu não cuidava da minha saúde como deveria, me alimentava mal, era sedentária, vivia estressada envolvida com minhas atividades diárias e talvez essa tenha sido a forma que Deus encontrou de me alertar para o fato de que eu estava desperdiçando meus dias.
Por trabalhar com comunicação, eu tinha noção das campanhas sobre o outubro rosa e da importância do autoexame, mas foi quando eu virei paciente oncológica que eu vi de fato que nós enquanto sociedade, não estamos preparados para lidar com essa doença. Cheguei a essa conclusão sempre que eu precisava contar a alguém que eu estava com câncer e recebia de volta um olhar de pena ou de medo, algumas pessoas esboçavam um choro ou me chamavam de guerreira, coisa que eu detesto. Guerreira só a Xena ou a Mulher Maravilha. Resolvi criar um canal no youtube para poder contar a minha história do meu jeito, com um bom humor que era só meu e que muitas vezes chegava a ser ácido. Tenho visto ao longo dos anos muitas empresas mudarem as cores de suas logomarcas, adicionando o lacinho rosa característico da campanha e me pergunto sempre quais as ações reais que essas empresas promovem para seus funcionários. De nada adianta uma fachada iluminada na cor rosa se as mulheres que trabalham ali não puderem, pelo menos, tirar um dia de folga para se dedicarem em atualizar seus exames, ou se elas não são incentivadas a fazerem atividades físicas, a lista de ações é enorme.
Depois de 16 sessões de quimioterapia, uma cirurgia e mais 25 sessões de radioterapia, a pergunta que eu mais ouço agora é se eu já estou curada e a minha resposta tem sido sempre: na minha cabeça, sim. Sabendo eu que a cura é algo subjetivo, principalmente porque depois da fase mais pesada do tratamento, eu ainda tomo remédios diários e mensais. Eu me atrevo a dizer que nós pacientes oncológicos somos sempre cobrados por essa cura, como se fosse um troféu, algo a ser ostentado, mas ao mesmo tempo é algo que foge do nosso controle e muitas vezes exige a resposta que a medicina não tem.
Eu costumo dizer que tive muita sorte em minha história com o câncer. Isso porque tive a honra de ser cuidada por médicos excepcionais, que por terem amor pela profissão, transbordam este amor para os seus pacientes e vou aproveitar para agradecer, mais uma vez, à minha oncologista Juliana Florinda pela dedicação e cuidado que ela tem comigo e com todos os pacientes dela. Tive também o apoio incondicional da minha família, principalmente da minha mãe, que se pudesse teria transferido para ela todas as dores físicas e emocionais que eu sentia. Se não fosse por dona Francisca, eu nem estaria aqui contando essa história para vocês. Vou ressaltar também o apoio do Grupo Bonitas, que tem um trabalho incomensurável com todas as mulheres que fazem parte do grupo. Ter o apoio das pessoas certas faz com que todo o caminho seja mais fácil de ser percorrido.
Por fim, vale salientar que todos estamos sujeitos a ter um câncer, mesmo que algumas vacinas já existam no mercado, ainda não inventaram pílulas milagrosas que impedirão as pessoas de adoecerem. Mas é preciso também que o câncer não seja tratado como um tabu, é apenas uma doença que tem cura e tem tratamento.
*Jornalista