“Ele foi muito precipitado, grosseiro”, disparou o prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), ao comentar as declarações do senador Rogério Marinho (PL) de que ele “faltou com a verdade” ao denunciar que o parlamentar ordenou a suspensão de mais de R$ 40 milhões em convênios para o município após sua vitória para o Senado Federal, em 2022. Para o prefeito, o senador foi ingrato, já que só conseguiu uma votação expressiva em Natal após o chefe do executivo se dedicar à sua campanha eleitoral na cidade, pois, se não fosse isso, Rogério perderia por uma “diferença homérica dentro de Natal”.
“Temos aqui todos os convênios que nós demos entrada no Ministério dele, e que comprovam que houve, realmente, a internalização desses convênios no MDR, que houve tramitação e tiveram relatórios técnicos favoráveis e aprovados. E, inexplicavelmente, esses convênios deixaram de ser creditados e encaminhados como deveriam e a cidade de Natal teve um prejuízo enorme”, lamentou Álvaro, em entrevista à 97 FM Natal nesta terça-feira (8).
O prefeito comentou as declarações do senador, que o chamou de “ingrato” por seu comportamento após a derrota de Bolsonaro. “Soube que ele disse que sou ingrato. Não sei quem é o ingrato. Trabalhei, me empenhei para a vitória de Rogério. Não sei que ingratidão é essa minha em relação a ele. Agora, ele está lá no Senado com oito anos pela frente e está me chamando de ingrato, para minha surpresa e minha decepção porque não esperava isso da parte dele, já que todo o Estado e o povo de Natal é testemunha do meu empenho”, desabafou.
Álvaro disse que não iria polemizar, pois “o tempo é o senhor da razão” e que “não esperava” que a situação chegasse ao ponto de rompimento político entre ele e Rogério Marinho. E lembrou dos inúmeros alertas e reclamações que recebeu de pessoas próximas, por estar se empenhando demais na campanha pela eleição do hoje senador, uma vez que este é conhecido por formar parcerias e depois, descartá-las.
“Eu ouvia sempre de pessoas dizerem que Rogério teve uma parceria com a ex-prefeita Wilma de Faria e depois mudou, que Rogério teve uma parceria muito grande com Paulo Guedes, ministro do governo Bolsonaro e depois passou a atacá-lo. Se lembre disso tudo, porque ele não merece esse empenho todo na campanha. Mas, eu fiz o que podia fazer e acho que essas palavras que ele proferiu, não fazem justiça ao que aconteceu, porque mais do que fiz era impossível. O que faço questão de dizer é que nós não mentimos, o tempo é o senhor da razão”, garantiu.
Álvaro Dias afirmou ter sido surpreendido com a situação, uma vez que teve um papel essencial na campanha de Rogério Marinho ao Senado, contribuindo para que este recebesse uma votação expressiva em Natal. “Me surpreendeu porque tivemos uma participação muito importante na campanha de Rogério quando ele enfrentou o ex-prefeito Carlos Eduardo em Natal. Eu, inicialmente, com as primeiras pesquisas, tomei um susto porque a situação dele em Natal era muito difícil. Ele ia perder por uma diferença homérica dentro de Natal”.
E que, diante disso, tomou a dianteira da campanha do atual senador, o que, segundo ele, garantiu que Rogério fosse bem-sucedido em Natal. E que, justamente por isso, “nunca esperava que ele tivesse alguma atitude inesperada com a cidade de Natal. Demos entrada em alguns convênios, em torno de R$ 40 milhões, que para surpresa nossa, não foram empenhados. E quem sucedeu o ministro Rogério Marinho foi o seu chefe de gabinete e que ainda hoje é seu chefe de gabinete no Senado, Daniel de Oliveira Duarte Ferreira, portanto, indicado e amigo pessoal dele, que faria, claro, o que ele pedisse, sugerisse, determinasse”, lamentou.
Ex-aliados trocam acusações: “mentiroso”, “ingrato” e “torpe”
A troca de farpas entre os dois agora ex-aliados teve início no dia 25 de julho, após Álvaro afirmar que Rogério ordenou a suspensão de convênios importantes para obras estruturantes e de mobilidade urbana em Natal, no fim de 2022. “Fiquei muito decepcionado com ele. Tivemos uma reação natural de descontentamento e de revolta com essa atitude. Não nasci hoje, foram cancelados porque ele falou com seu sucessor – indicado por ele – e autorizou o cancelamento. Não estou rompido, mas não tenho o mesmo relacionamento que tinha”, disse, na época.
No dia seguinte, Rogério rebateu as acusações e disparou: “Quem acusa tem que provar. Ele apresente as publicações em Diário Oficial da União das verbas orçamentárias que foram disponibilizadas e posteriormente anuladas”, completando que somente se pronunciaria sobre a acusação do prefeito “no momento certo” e que o assunto, por ora, estava encerrado, “o tempo é o senhor da razão. Há tempo para tudo, para plantar, cuidar e colher”, finalizou.
Já nesta segunda-feira (7), Rogério voltou a cutucar Álvaro, ao afirmar que este “rompeu conosco, publicamente, de maneira mais torpe possível”, após a derrota eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “A partir daquele momento, mudou completamente. Se afastou, não deu mais notícias, só esteve comigo uma ou duas vezes e fui surpreendido com a declaração que ele deu”. Para o senador, o prefeito “está se sentindo mais à vontade para buscar um grupo político diferente, por conveniência ou circunstâncias. Que ele diga isso publicamente e não procure um pretexto”.
Rogério disse ainda considerar a afirmação de Álvaro – de ter votado em Bolsonaro por não ter outra opção -, como “muito aviltante”. “Na vida pública, aprendi que a característica mais importante de quem faz política é ser solidário, ser correto, ser coerente e ter gratidão, reconhecimento. E claramente o prefeito demonstra que essas características não fazem parte da maneira como ele se comporta. Recebi o recado e estou absolutamente tranquilo”.