O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira que o encaminhamento da investigação do caso Master para o Supremo Tribunal Federal (STF) não gerou “prejuízos” às apurações que miram em supostas irregularidades cometidas pelo dono da instituição financeira, o banqueiro Daniel Vorcaro.
— Não houve nenhum prejuízo na investigação, porque foi um lado temporal curtíssimo e agora já devidamente autorizado pelo foro competente. As investigações prosseguem, análise de material aprendido e tudo aquilo que nós temos que fazer — disse Andrei, em conversa com jornalistas.
— De fato, temos tido uma cautela muito grande em todas as nossas investigações, até para evitar nulidades. A qualquer indício de investigado com prerrogativa de foro, suspendemos as investigações e enviamos ao foro competente. Neste caso, houve um achado que pode indicar a prerrogativa de foro. A partir de agora, todas as ações referentes a este caso precisam ser submetidas a esse foro, que é o Supremo — completou o diretor-geral da corporação.
Na última semana, o ministro do STF Dias Toffoli determinou que só ele poderia autorizar qualquer nova medida relacionada ao caso, como operações de busca e apreensão e quebra de sigilo de alvos da apuração, além de decretar sigilo máximo ao inquérito. O motivo alegado é que apareceu a citação a pelo menos um deputado federal em um documento apreendido pela PF.
O arquivo em questão mencionava o nome do deputado José Carlos Bacelar Filho (PL-BA) e se relacionava com um “empreendimento imobiliário”.
Procurado, Bacelar explicou que atuou para constituir um fundo para construir um empreendimento imobiliário em Porto Seguro (BA), e que Vorcaro se interessou no negócio e o procurou. Segundo o deputado, no entanto, documentos chegaram a ser enviados ao banqueiro, mas não houve confirmação de negócio.
— Estive várias vezes com ele sobre esse assunto. Ele é meu amigo e falou que tinha interesse. Mas o negócio não se concretizou, porque ele disse que estava tentando salvar o banco e que essa era a prioridade no momento — afirmou.
Esse documento foi citado pela defesa de um diretor do Banco Master para deslocar a competência da investigação da Justiça Federal do Distrito Federal ao STF. Toffoli acatou ao pedido.
Investigações sobre emendas
O diretor-geral da PF também comentou nesta segunda-feira as operações envolvendo o suposto desvio de recursos de emendas parlamentares, que miram políticos com foro privilegiado.
— A atividade política não pode ser responsabilizada nem criminalizada, mas aqueles que desviarem vamos apresentar conclusões ao Poder Judiciário sem caça às bruxas, sem criminalização da política, mas com responsabilidade — disse Andrei.
Na última sexta-feira, a PF deflagrou uma operação chamada “Transparência” que apura supostas irregularidades na distribuição de emendas do chamado “Orçamento Secreto”. Uma ex-assessora do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi alvo de mandados de busca e apreensão. Lira não foi alvo desta ação.
O diretor-geral da corporação destacou que essas investigações são fruto de “denúncias” feitas pelos próprios parlamentares. Quatro deputados e um senador relataram à PF que houve direcionamento e execução suspeita dos repasses de emendas de relator.
Andrei afirmou que continua tendo um “diálogo aberto e franco” com as cúpulas do Congresso Nacional, mesmo após essas operações envolvendo as emendas.
— Eu não tenho nenhuma preocupação em relação ao diálogo que tenho com o mundo político, porque tenho a convicção e a certeza daquilo que nós estamos fazendo na Polícia Federal com correção — disse ele, complementando que considera “natural” o movimento de pressão recebido por parte de integrantes do Parlamento.
— Isso faz parte do jogo e quem não aguentar a pressão não vem ao jogo — disse Andrei.
Nove bilhões em descapitalização
O chefe da PF informou que a corporação apreendeu mais de R$ 9,6 bilhões ligados ao crime organizado em 2025. Segundo Andrei, o valor corresponde a bens e recursos “efetivamente” retirados das mãos dos criminosos. Isso representa um acréscimo de 57,3% em relação ao mesmo dado do ano passado – R$ 6,1 bilhões.
— Não são bloqueios de contas nos quais às vezes o dinheiro nunca é encontrado. Esse valor que está aqui efetivamente foi apreendido, seja em dinheiro, em cripto, ouro, imóveis, barcos — disse ele.
Segundo o balanço da corporação, a PFdeflagrou 3310 operações neste ano, o que representa um aumento de 5,6% em relação ao ano passado (3133). Na quantidade mandados de prisão cumpridos, também houve uma alta, de 10,5% entre 2024 e 2025 – de 2184 a 2413.
‘Precisamos de menos anistia’
O diretor da corporação também fez uma crítica nesta segunda-feira aos políticos que defendem “no discurso” o combate duro ao crime organizado, mas “na prática” são “condescendentes” com alvos de operações de operações policiais. Ele citou como exemplo a decisão da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) de revogar a prisão preventiva do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil).
— Eu me refiro a esse contrassenso de políticos serem vigorosos no discurso contra o crime organizado e, na prática, condescender com o crime ao não permitir a prisão, a continuidade da prisão. Precisamos que o enfrentamento ao crime organizado seja responsabilidade de todos. Não é razoável termos, como tivemos no Rio de Janeiro, soltura de preso vinculado ao crime e ao mesmo tempo discurso de combate ao crime. Na hora de apertar o botão, do solta ou não solta, vão pela soltura — disse o diretor-geral em conversa com jornalistas.
— Nós precisamos de menos condescendência com o crime organizado, menos anistia e mais vigor — acrescentou ele.
*Com informações do O Globo

