Por Carol Ribeiro
A movimentação da vereadora licenciada e secretária de Assistência Social de Natal, Nina Souza, em possível direção ao PL, pode mudar novamente o rumo político da deputada federal Carla Dickson (União Brasil). O cenário que se desenha é carregado de ironia política: foi justamente a pré-candidatura de Nina à Câmara Federal pelo União Brasil que levou Carla a buscar um novo abrigo partidário. Agora, ambas podem acabar no mesmo destino.
Há cerca de duas semanas, o ex-prefeito de Natal e pré-candidato ao Governo do Estado, Álvaro Dias (Republicanos), anunciou apoio público ao projeto de Nina, que já conta também com a parceria do vereador Ériko Jácome, realocado para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa em dobradinha com a secretária. O grupo de Álvaro, atualmente no Republicanos, tem conversado sobre uma migração conjunta para o PL, o mesmo partido que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro e que deve se tornar o principal polo da direita no Rio Grande do Norte.
A entrada de Nina no PL, no entanto, pode reembaralhar as cartas. Carla Dickson já havia admitido, em entrevista ao Diário do RN, que o motivo de sua possível saída do União Brasil era justamente o desconforto eleitoral dentro da nominata.
“Primeiro, que o meu discurso não é de União Brasil, e segundo que eu posso virar esteira de luxo no União Brasil. E eu posso ser esteira de luxo também no PL. Posso, porque nós temos dois grandes deputados, só que eu tenho mais chance de lutar por uma cadeira no PL”, avaliou a deputada ao Diário do RN, durante entrevista em agosto.
Carla explicou que sua desfiliação deve ocorrer em abril de 2026, durante a janela partidária, prazo legal para a troca de legenda sem risco de perda do mandato. A deputada afirma que chegou a pedir, informalmente, anuência ao presidente nacional do União, Antonio Rueda, mas não obteve autorização.
No cálculo eleitoral da parlamentar, o União Brasil hoje teria pelo menos três nomes à frente na disputa pela Câmara dos Deputados: Benes Leocádio, Robinson Faria e João Maia, deixando a quarta vaga em disputa direta com Nina Souza. “O União Brasil hoje está me deixando um pouco desconfortável, porque hoje, com certeza, a União faz três [vagas], que não sou eu (…). E a quarta vaga, ainda vou ter que disputar, provavelmente, com a Nina”, disse na ocasião.
No PL, por outro lado, Carla avalia que a disputa também seria acirrada, mas com chances ligeiramente melhores. Lá, ela teria de enfrentar nomes como General Girão, considerado “cabeça de chapa”, e o Sargento Gonçalves, ambos também ligados ao segmento evangélico.
Ainda assim, ela reconhece que hoje estaria em desvantagem por ter assumido o mandato apenas neste ano, após a saída de Paulinho Freire, que assumiu a Prefeitura de Natal.
O movimento partidário de Nina e Carla ocorre num momento de possível mudanças do União Brasil no estado. A provável filiação do senador Styvenson Valentim deve mudar a correlação de forças internas. Styvenson e Paulinho Freire são aliados do grupo de Rogério Marinho (PL) e Álvaro Dias, enquanto o presidente estadual da legenda, José Agripino Maia, trabalha pela viabilização da candidatura do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, ao governo em 2026, em via alternativa, já que não há sinais de acordos entre o prefeito de Mossoró e as lideranças da direita para a antes almejada união da oposição.

