A infância é um momento de descobertas e algumas pessoas, nessa fase fundamental, acabam descobrindo profissões ainda no começo de suas vidas. Com a odontopediatra Juliana Lemos foi exatamente assim. Aos 8 anos ela decidiu que seria dentista e não mudou de ideia desde a fase adulta. Hoje, aos 31 anos, Juliana ainda lembra que por causa de um procedimento odontológico que precisou fazer, a experiência foi definitiva para a sua trajetória: “Eu adorava o cheiro, adorava o ambiente. Eu era muito curiosa. Via tudo muito interessante e eu estava tão relaxada que eu dormi na cadeira da dentista. Ela brincou comigo e me deu um brinde quando eu terminei a consulta. Me lembro que eu fui para casa pensando assim: ‘Acho que eu quero ser dentista quando eu crescer’, eu tinha 8 anos e nunca mudei de ideia”.
E assim, enquanto outras crianças queriam ser astronautas, médicas, bailarinas, Juliana só pensava em ser dentista. Nos primeiros passos para iniciar a trajetória profissional, ainda estudante ela se mudou de Macau para Natal e o sonho, aos poucos, começou a se tornar realidade, mas no começo da graduação, ela não imaginava que iria se especializar em odontopediatria, área da odontologia que contempla o atendimento de crianças. “Eu admirava muitos profissionais e muitos professores da época da graduação. Eu já admirava a profissão em si, que olhando parece muito fácil, mas quando você vai para dentro, você vê que não é. Na verdade, um dos maiores desafios da vida é atender uma criança no consultório, num ambiente odontológico”, explica.
Juliana Lemos via que mudanças deveriam ser feitas no consultório para que um lugar alusivo ao medo e a dor pudesse ser transformado em algo mais confortável para as crianças: “Tem muito barulho, as coisas são muito grandes, não tem nada lúdico. Então, o desafio é transformar isso em uma brincadeira, em uma coisa lúdica, mas o que me inspirou realmente foi a minha experiência com as crianças no atendimento no consultório enquanto recém-formada”.
Cheia de ideias e entusiasmo, Juliana Lemos decidiu criar uma ferramenta divertida em seu trabalho: “No consultório eu tenho uma ‘cadeira mágica’, ela só acende a luz depois que a criança bate palmas, tem uma escova mágica que gira, um canudinho que suga a água, várias coisas legais acontecem. A gente precisa ter uma abordagem lúdica com as crianças para que aquele momento faça parte da vida delas, realmente, não é um momento confortável”.
A odontopediatra afirma que ao invadir um espaço tão particular da criança – que é a boca – essa intimidade precisa previamente de uma conexão. A atitude também faz as crianças entenderem sobre limites e respeito: “A criança só se conecta com a gente quando ela se sente mais próxima, então precisamos transformar a consulta em um momento lúdico. Eu sempre pergunto sobre qual desenho a criança gosta, das músicas que escuta, sempre vou chamar o paciente na hora do atendimento, para criar uma familiaridade, me agacho para ficar mais na altura da criança”.
Percepção e sensibilidade do profissional
são as grandes aliadas da odontopediatria
De acordo com Juliana Lemos, a proximidade e a conexão são feitas de forma cautelosa, pois algumas crianças são mais receptivas do que outras, por questões de convivência com outros adultos, mas que ela respeita o espaço da criança, porque para cada paciente é necessário ter uma abordagem individual: “Eu faço a consulta ser algo como uma brincadeira, eu transformo tudo numa brincadeira. Eu coloco a criança para tocar nas coisas, sentir com a própria mão, para que ela perca o medo e aquilo não vire uma coisa tão distante dela”.

Juliana explica que além dos atendimentos e da ludicidade, é necessário ter sensibilidade na hora de atender as crianças, pois, na prática, qualquer dentista está apto para executar a função, mas a criança é um mundo de possibilidades: “É tudo muito diferente e a gente precisa ter cuidado, pois as relações familiares influenciam, as relações extra consultório influenciam nas consultas. São percepções que a gente vai adquirindo com o tempo; é um olhar mais cuidadoso da parte do profissional e as famílias ficam mais confortáveis assim. A técnica todo dentista sabe, mas o odontopediatra tem um olhar a mais, que passa da odontologia e perpassa outras camadas”, finaliza.