Por Robson Bezerra
A decisão da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final da Câmara Municipal de Natal de rejeitar a concessão do título de cidadão natalense à cantora Pablo Vittar gerou reação da autora da proposta, a vereadora Thabatta Pimenta (PSol). Para ela, a postura da maioria dos vereadores demonstra incoerência, já que a Casa Legislativa aprovou honrarias a figuras nacionais sem vínculo direto com Natal, como o deputado Nicolas Ferreira e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Segundo Thabatta, a negativa à Pablo Vittar “escancara” a seletividade da Câmara. “Na época de Bolsonaro, a alegação da maioria dos vereadores era de que o título de cidadão é um direito do vereador. Era muito nesse sentido. Então eu disse: vamos testar. Fiz para Pablo e também para Alexandre de Morais. Para mim, isso mostra claramente como eles agem em relação a esses títulos: aprovam apenas o que querem”, afirma.
A parlamentar destaca ainda que a decisão de barrar o projeto já na comissão não é comum. “No caso de Bolsonaro, o projeto foi para o plenário, onde cada um pôde se posicionar. Já agora, no caso de Pabllo, foi barrado de imediato na comissão. Isso não deveria acontecer, o sim ou não deveria ficar para o plenário”, criticou Thabatta acrescentando que vai recorrer da decisão.
“Houve voto divergente da vereadora Brisa Bracchi, que se posicionou a favor. Por isso, podemos entrar com recurso para que o projeto seja encaminhado ao plenário. Vamos fazer isso e quero ver se terão coragem de se posicionar publicamente, como fizeram no caso de Bolsonaro”, reforça.
A vereadora também levanta a possibilidade do preconceito influenciar na decisão. “No caso de Pabllo Vittar, eu senti um cheiro de transfobia, porque eles recusaram já no início. Poderiam ter deixado chegar no plenário. Mas, como Pabllo não é uma mulher trans, é um homem gay que se apresenta como drag queen, pode ser que o debate esteja mais ligado a homofobia. De todo modo, quero levar o projeto ao plenário para ver qual será a defesa deles”.
Para Thabatta, além do simbolismo, Pablo Vittar traz impacto econômico e social sempre que se apresenta em Natal. “Toda vez que ela vem, faz girar a economia, principalmente com o chamado ‘Pink Money’, que é o poder de consumo da comunidade LGBT. Essas pessoas se programam, gastam mais e já vemos isso acontecer na cidade antes mesmo da chegada dela.”, explica.
Ela também ressalta o caráter comparativo da proposta.“Não se trata apenas do título em si, mas do que ele representa. Se deram o título a Nicolas Ferreira, que nunca veio a Natal, e aprovaram para Michelle Bolsonaro, por que não reconhecer Pablo, que tem presença na cidade e simboliza tanto para a comunidade LGBT?”, questiona.
Thabatta revela que a própria cantora já tinha conhecimento da proposta. “Ela sabe que apresentei o título. A entrega seria na festa dela, em novembro, quando estará em Natal”.
Por fim, a vereadora lembra que a Câmara tem dado passos importantes no reconhecimento de pessoas LGBTQIA+, mas o caso Pabllo Vittar evidencia que ainda há resistências. “Estamos concedendo comendas a pessoas LGBTs e trans que nunca tiveram oportunidade antes. Esse título seria mais um passo nesse processo. Mas vemos que, para algumas figuras, há boa vontade, e para outras, não. É isso que precisamos escancarar”, concluiu.