Ao longo da história, seres humanos olharam para o céu com propósitos diversos, como a busca por inspiração, direções e respostas. Atualmente, cientistas ressignificaram esse intenso desejo: graças ao auxílio da tecnologia, se tornou possível procurar por novos astros. Assim, uma equipe internacional de astrônomos, com participação da UFRN, acaba de anunciar a descoberta de um novo planeta orbitando a estrela Gliese 410 (DS Leo), localizada a 39 anos-luz do Sistema Solar, na constelação de Leão. O estudo foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics em agosto deste ano.
O planeta, batizado Gl 410b, é classificado como um sub-Netuno — maior que a Terra, mas menor que Netuno — e possui cerca de 8,4 vezes a massa do nosso planeta. Ele completa uma órbita em apenas seis dias e se encontra a uma distância equivalente a 0,05 vezes a distância da Terra ao Sol.
Graças à proximidade de sua estrela e ao período orbital muito curto, Gl 410b recebe cerca de 20 vezes mais energia que a Terra, apresentando uma temperatura de equilíbrio em torno de 300 °C. Embora não seja um candidato à habitabilidade, esse mundo extremo representa um laboratório natural para entender a formação e a dinâmica de sistemas planetários em anãs vermelhas.
As observações revelaram que Gl 410 possui um campo magnético 100 vezes mais intenso que o solar. Isso significa que seus planetas provavelmente enfrentam tempestades estelares frequentes, capazes de produzir auroras colossais e até provocar erosão atmosférica. Além desse planeta confirmado, os dados sugerem a existência de outros dois candidatos, com períodos orbitais de três e 18,7 dias. Caso confirmados, o sistema formaria um conjunto compacto e ressonante de pequenos planetas, oferecendo um laboratório natural para o estudo da formação e da dinâmica planetária.
A descoberta foi realizada com o espectrógrafo SPIRou – um instrumento que dispersa a luz de um objeto para que este possa ser analisado posteriormente –, instalado no Telescópio Canadá–França–Havaí (CFHT), no topo da montanha sagrada Maunakea, e confirmada com apoio do espectrógrafo SOPHIE. A pesquisa integra o SPIRou Legacy Survey, um programa franco-canadense que totaliza 310 noites de observações ao longo de três anos, combinadas com dados obtidos pelo SOPHIE entre 2021 e 2023.
Entre os autores, estão acadêmicos da França, Canadá, Estados Unidos e Brasil, com destaque para a participação do astrofísico José Dias do Nascimento, docente do Departamento de Física da UFRN e pesquisador visitante do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics (CfA). De acordo com o professor, o alcance destes resultados é de grande importância, uma vez que a publicação demonstra, de forma clara, a eficiência e a força do projeto internacional empreendido.
“A maior parte das estrelas na vizinhança do Sistema Solar são anãs vermelhas — pequenas, frias e discretas. Detectar planetas ao seu redor é um desafio, mas cada descoberta abre uma nova janela para entendermos a diversidade de mundos que podem existir tão perto de nós”, destaca o astrofísico José Dias do Nascimento Jr.
Sobre o professor
José Dias do Nascimento Júnior também esteve entre os cientistas envolvidos na descoberta do chamado “planeta-água”, o TOI-1452b — localizado a cerca de 100 mil anos-luz da Terra. Descoberto em 2022, o achado chamou atenção da comunidade científica por suas dimensões semelhantes às da Terra, mas possivelmente coberto por um vasto oceano.
OI-1452b vem sendo classificado como um “planeta-oceano”, devido à sua composição e densidade compatíveis com grande abundante de água em estado líquido. Assim como Gliese 410b, a descoberta foi feita por meio de colaborações internacionais que combinam observações de alta precisão e modelagens sofisticadas.