ELSON HENRIQUE: O ESCULTOR QUE TRANSFORMA SUCATA EM ARTE E RESISTÊNCIA
DA ADVERSIDADE AO DESPERTAR ARTÍSTICO
Mais uma vez resgato do escritor e professor Marcos de Lima, dados importantes sobre um escultor que tem transformado e se adaptado aos novos tempos da escultura em tempo de reciclagem e modernidade. Escrevo sobre Elson Henrique de Oliveira Mesquita, Natural de Almino Afonso, nascido em 1988, Filho de Luis Cassimiro e Iracema Medeiros, da cidade de Angicos. Elson Henrique de Oliveira Mesquita encontrou na adversidade o ponto de partida para sua jornada artística. O desemprego, que para muitos seria fim, foi para ele o início. Foi durante esse período que o talento adormecido despertou, revelando-se em esculturas feitas com materiais recicláveis. Uma trajetória que comprova como a arte pode emergir da surpresa e da necessidade, como se o destino apenas aguardasse uma fresta no cotidiano para se manifestar.
Seu primeiro contato com o mundo cultural ocorreu no Museu do Sertão, sob a orientação do professor Benedito Vasconcelos. A experiência foi determinante para sua formação estética e seu compromisso com a memória e a valorização do sertão.
ARTE ENTRE O FERRO E O SÍMBOLO


A produção artística de Elson pode ser classificada em dois grandes núcleos. O primeiro se concentra nas esculturas feitas a partir de sucata, peças metálicas que pertenceram a engrenagens, maquinários e objetos industriais. É nesse campo que sua originalidade brilha com mais intensidade. Elson transforma pequenas peças de ferro e aço em obras como cabeças de cavalos ou touros, impondo presença e sentido a partir do que antes era considerado descartável.
Essas esculturas são monumentos silenciosos da reinvenção. Elas representam um novo universo edificado com o que foi rejeitado, trazendo à tona a beleza latente naquilo que perdeu sua função original. Criar a partir de restos, de peças aleatórias e inertes, exige um olhar treinado pela intuição e sensibilidade, atributos que Elson domina com rara naturalidade.
O SERTÃO EM FORMA DE BODE
O segundo núcleo de sua obra representa o mundo animal, especialmente figuras ligadas à vida rural nordestina. Dentre elas, destacam-se os bodes, alguns confeccionados em alumínio, que simbolizam não apenas um elemento do cotidiano sertanejo, mas a resistência diante de um ambiente adverso. A escultura do bode assume, assim, uma força simbólica: a do ser que se adapta, sobrevive e enfrenta as secas e os espinhos da caatinga.
Há ainda um curioso destaque para a “masculinidade” desses animais. A forma como o artista exalta seus traços viris parece querer dizer algo além do físico: uma ancestral força vital que atravessa tempos e paisagens, imprimindo vigor e autonomia em cada linha esculpida.
DO SERTÃO AO IMAGINÁRIO UNIVERSAL
Elson não se restringe à fauna regional. Seu repertório inclui também personagens do imaginário ocidental e da cultura popular. Estão em seu acervo desde figuras universais como Dom Quixote e Sancho Pança, até ícones nordestinos como Antônio Conselheiro. Há ainda esculturas como a cabeça de uma águia dourada, de impressionante acabamento, que atestam sua versatilidade e domínio técnico.
Sua arte é resultado de uma capacidade criativa incomum: repensar o mundo a partir do que foi deixado de lado. Com peças outrora funcionais, Elson compõe novas narrativas visuais e simbólicas, transmutando o velho em eterno.
UM ESCULTOR DO REAPROVEITAMENTO E DA IMAGINAÇÃO
Com apenas três anos de atuação, Elson Henrique já desponta como uma das vozes mais originais da escultura potiguar contemporânea. Sua arte é resistência, reinvenção e memória, e sua matéria-prima, o que foi rejeitado, agora é celebrado como forma e significado. Além do mais, acessem o blog: www.animapotiguar.net, onde um inventário e catalogação de áudio visual de curtas e animação produzidas no RN os aguarda para apreciação.