A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte discutiu, na tarde desta quinta-feira (26), um dos temas mais urgentes da atualidade: a Cidadania Digital nas Escolas. A iniciativa foi do deputado estadual Ubaldo Fernandes (PSDB), que convidou autoridades no assunto e, junto a especialistas, discutiu a necessidade de preparar as novas gerações para os desafios do mundo online. O foco desmistificar o uso de meios digitais e ressaltar os pontos positivos do uso de ferramentas tecnológicas por parte dos jovens.
“Vivemos um tempo em que os desafios da vida online se somam aos dilemas da vida real, especialmente quando o assunto é a formação das novas gerações”, afirmou o parlamentar em seu discurso de abertura.
A audiência pública dialoga diretamente com a campanha institucional da Assembleia, intitulada “Adolescência: acompanhe, compreenda e acolha”, que busca orientar pais, professores e a sociedade em geral sobre como lidar com os dilemas vividos pelos jovens, principalmente no ambiente digital. Durante a abertura da audiência, Ubaldo Fernandes alertou para dados alarmantes: segundo a SaferNet, quatro em cada dez estudantes brasileiros já enfrentaram algum tipo de violência online, como o cyberbullying. No entanto, apenas 44% das redes estaduais possuem projetos pedagógicos estruturados sobre o uso responsável da internet.
“Essa realidade nos alerta para a urgência de uma resposta sistêmica e comprometida. Nosso papel como representantes do povo é justamente ouvir a sociedade, reunir especialistas, provocar o debate e ajudar a construir soluções”, disse Ubaldo, ressaltando que não se pode demonizar o uso da internet pelos jovens. “Se bem aproveitada, a internet pode ser um dos maiores instrumentos de inclusão, conhecimento e geração de renda da atualidade”, disse.
O debate ocorre no momento em que as escolas brasileiras proibiram o uso de telefones celulares. Por isso, os representantes fizeram questão de ressaltar que é preciso que o acesso a meios digitais não seja demonizado, mas que ocorra o esclarecimento e educação para a sociedade.
A presidente da Federação de Esportes Eletrônicos do RN e CEO da Liga Digicom, Tábata Diniz, destacou que a sociedade precisa combater a ociosidade digital, de forma que evitaria boa parte dos perigos que a Internet reserva à população.
“A ociosidade digital, quando não direcionada, vira armadilha e o problema não é estar conectado. É não saber como estar conectado com responsabilidade e propósito. A educação digital precisa estar nas escolas, casas e políticas públicas. Precisamos explicar desde cedo o que é cidadania digital. O cuidado com a privacidade, respeito, uso consciente e, principalmente, como o mundo digital pode ser ferramenta de aprendizado, desenvolvimento e até mesmo de profissão”, disse Tábata Diniz.
No entendimento da participante do debate, os jogos digitais podem ser utilizados para fins educacionais de forma eficiente e a Liga Digicom teria até a possibilidade de oferecer serviços para fazer com que a educação através de jogos eletrônicos seja aplicada nas escolas no Rio Grande do Norte.
“Nós temos um projeto anual para ser aplicado nas escolas. Educa e encanta, usando os jogos eletrônicos. Ensina pensamentos estratégicos, liderança, trabalho em equipe, disciplina e tudo isso de forma divertida, interativa e mais próxima da realidade deles”, explicou. “É diferente de dar uma palestra em uma escola a um garoto. Ele pode achar um saco. Mas quando você utiliza o jogo eletrônico, usa uma ferramenta que ele joga e desperta a vontade de interagir, aprender”, explicou.
Representando a Secretaria Estadual de Educação, Josenildo Gomes de Oliveira, coordenador de Educação Digital Tecnologia e Inovação Educacional da SEEC, explicou os desafios pelos quais passa o Estado na área. De acordo com o coordenador, os professores que foram formados e estão nas salas de aulas ainda não têm a formação adequada para a área de educação digital. Ele entende que a proibição do uso de celulares nas escolas foi um ponto positivo e necessário, mas defende que ocorra um aperfeiçoamento dos profissionais na área de educação digital como forma de usar a tecnologia a favor do ensino.
“Queremos oferecer no IFRN de Pau dos Ferros uma graduação em IA de forma pedagógica. Temos a preocupação em formar nossos professores para dar conta dessa demanda, que faz parte do plano nacional de educação digital”, disse Josenildo Gomes, informando ainda que uma parceria da SEEC com o Instituto Metrópole Digital (IMD) vai garantir 24 vagas de mestrado e quatro de doutorado a professores da rede estadual para o aperfeiçoamento na área digital.
Na audiência, a defesa pelo uso de jogos digitais como forma de aprendizado foi unânime entre os presentes para que os jovens tenham cada vez mais familiaridade e domínio sobre a tecnologia. A criação de novas profissões e oportunidades para a juventude a partir da tecnologia foi algo destacado, assim como dados que apontam a necessidade de mais de 800 mil profissionais de tecnologia até o fim 2025.
“Programas como o Bolsa Futuro Digital, do Ministério da Ciência e Tecnologia, estão abrindo caminhos para que alunos da rede pública se qualifiquem e conquistem espaço no mercado de trabalho”, explicou Ubaldo, defendendo o protagonismo da escola nesse processo. “Não apenas ensinando a evitar riscos, mas preparando os jovens para explorar o melhor que o ambiente virtual tem a oferecer — com responsabilidade, ética e senso crítico”.
Ubaldo também defendeu investimentos na formação de professores, no envolvimento das famílias e na melhoria da infraestrutura tecnológica das escolas potiguares.
“Como deputado estadual, sempre faço questão de trazer à pauta temas que conectam a educação ao futuro, o social ao tecnológico, e a juventude às possibilidades que o nosso estado pode oferecer”, concluiu.